sábado, 31 de julho de 2010

PSOL Curitiba promove seminário Interpretações do Brasil – Interpretações do Paraná



Naiady Piva

Na quarta-feira (28 de julho de 2010) o Partido Socialismo e Liberdade promoveu em Curitiba o Seminário de Formação Política: Interpretações do Brasil, Interpretações do Paraná. A atividade foi realizada pelo Núcleo de Formação do PSOL e pelo Diretório Municipal do PSOL Curiitba e teve como objetivo discutir e mapear a formação histórica e cultural do estado. O evento foi realizado na sede municipal do partido e contou com mais de quarenta pessoas dentre militantes do partido e outros interessados.
A mesa contou com os professores Luís Fernando Lopes Pereira, do curso de Direito da UFPR, e Marcos Vinícius Pansardi, da Universidade Tuiuti do Paraná e membro do núcleo de formação. A mediação se deu pelo Secretário de Comunicação do PSOL/PR Bruno Meirinho, que abriu pontuando a importância de se refletir sobre as particularidades do local, inclusive como forma de se fazer análises mais globais. Pontuou grandes pensadores contemporâneos (como David Harvey e Mike Davis) que se fazem longas análises e exposições sobre realidades imediatas de suas cidades e regiões.
O presidente do diretório municipal de Curitiba do PSOL Paulo Bearzoti resgatou o acúmulo que o partido teve nas eleições municipais de 2008 em Curitiba, na qual a partir de um estudo que buscou compreender a cidade de Curitiba como uma cidade “modelo”; mas não modelo como coloca o establishment e sim modelo no sucesso que teve em fazer um planejamento de exclusão. Esta crítica teórica cumpriu o papel de potencializar a intervenção do partido socialista na realidade e no movimento social. Um exemplo desta relação entre estudo e prática são as candidaturas a deputada de Josi e Cláudia (a federal e estadual, respectivamente) neste ano de 2010, lideranças do Jd. Itaqui em São José dos Pinhais (na Região Metropolitana de Curitiba). Estas candidaturas são, de certa forma, fruto desta intervenção na cidade.
No ano de 2010, Paulo coloca a importância de aproveitarmos este momento de campanha também para potencializar uma militância, desta vez em busca de compreender o estado do Paraná e ressaltou a importância do esforço do núcleo de formação política em realizar este momento reflexivo. Analisando em parte o contexto eleitoral que o estado vive hoje, o presidente do diretório lembra que hoje vive-se uma falsa dicotomia entre Osmar Dias e Beto Richa que, ao mesmo tempo em que ambos refletem posições da burguesia, refletem também o tensionamento entre um interior que é o paraíso do agronegócio e uma burguesia urbana da capital, respectivamente.

Resgate da história paranaense
O professor de História do Direito Luís Fernando fez um resgate historiográfico da conformação do estado nos últimos três séculos. Relembrou que o estado era até o século XIX a quinta comarca de São Paulo, só então se emancipando. Um primeiro ciclo econômico se deu até metade do século XVIII, em que predominava o trabalho escravo indígeno, procedido do ciclo do gado que prevalece até segunda metade do século XIX.
O professor coloca que a partir da segunda metade do século XIX tem-se o ciclo do mate, a partir do qual surge uma “elite ervateira”. Avalia que uma informação importante para este ciclo aflorar foi a guerra do Paraguai na qual o país anteriormente maior exportador de erva mate do mundo é devastado.
Luís Fernando coloca que a formação dos regionalismos no Brasil, até então de tradição portuguesa municipalista, se dá na virada do século XIX para o XX. O regionalismo paranaense (conhecido como “paranismo”) consiste na realidade em um “paranismo” da região de Curitiba e, quando muito, nos campos gerais (região de Ponta Grossa). O centro da análise é que o estado seria o “Brasil que dá certo”, uma vez que de acordo com a teoria da elite europeia a “civilização” seria possível apenas por europeus e em clima europeu, não em um país de clima tropical com “a preguiça do índio e o atraso do negro”. A escolha do termo segundo um dos principais representantes do movimento, Romário Martins, refere-se ao amor pelo Paraná em detrimento de um termo que pudesse representar algum tipo de natividade. O professor trouxe diversas histórias de como se deu a tentativa desta construção de paranismo, por meio de lendas, estátuas, pinturas, entre outros.

Brasil: uma análise a partir da revolução de 1930
O debate trazido pelo Professor Marcos Pansardi, fruto de seu estudo de doutorado em XX na Unicamp, trouxe uma análise do Brasil a partir do estudo da revolução de 1930. A avaliação do professor é que o governo Fernando Henrique Cardoso se constitui em uma marca de uma nova maneira de se interpretar a história brasileira, de certa forma superando o Brasil getulista, com o intuito de “estabelecer as bases de um Brasil moderno”, segundo teria dito o ex-presidente. Esta nova interpretação começa a ser gestada com os estudos de Florestan Fernandes, que buscou inaugurar um estudo científico do país que, até então, tinha sido analisado por meio de ideologias de direita e de esquerda.
A partir de uma análise de Otávio Brandão, Pansardi analise que a crise do café na década de 1920 coloca uma crise na elite brasileira, que passa a se dividir entre uma fração tradicionalista agrária e outra, industrial. Isto coloca uma aliança do partido comunista do brasil com o tenentismo e setores da burguesia industrial nascente. Aliança que se dá até o momento em que a internacional comunista dá um “giro a esquerda” no qual ficam vetadas alianças policlassistas, coloca o cientista política. Neste quadro, alguns comunistas teriam avaliado a revolução de 1930 não como uma primeira etapa da revolução socialista e sim como uma contra-revolução burguesa, cujo objetivo seria impedir uma revolução socialista que estava em andamento. Pansardi coloca que esta avaliação estava presente nas primeiras organizações trotskystas no país.
O professor resgatou teóricos e militantes que desenvolveram a análise de o trajeto da revolução socialista no Brasil era de a “classe trabalhadora empurrar a burguesia que iria, então, fazer a revolução”, análise está que ele avalia enfrentar um choque com o golpe de 1964. Trouxe então a leitura de Boris Fausto, posteriormente corroborado por autores de origem gramsciniana, de que a história do Brasil é uma história do rearranjo das elites.
Por outro lado, o professor coloca Florestan e os sociólogos da USP como uma tentativa de se desenvolver uma sociologia com método, científica, que também servisse para instrumentalizar a revolução dos trabalhadores, em contraposição às ideias tanto da direita como do populismo de esquerda, representado no PCB.
O professor concluiu colocando que esta análise histórica do pensamento social brasileiro e de como se constrói a história no país é importante para se compreender como se conforma o Estado atualmente e suas disputas políticas.

Debate entre os presentes
No debate com os presentes surgiram diversos temas. Dentre eles, questionamento sobre qual o papel de conferências e conselhos promovidas pelo governo Lula, até que ponto isto pode ser pensado com a ideia gramsciniana de revolução silenciosa e como estas organizações tem se dado no Paraná. Além disso, aprofundou-se o debate sobre o significa da identidade paranaense, além de qual é o perímetro do estado e a formação social do povo que constituí o estado. Outra questão foi a relação entre as diferentes regiões do estado do Paraná e as tentativas de integração estadual.

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