sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vote no PT e eleja a oligarquia

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Vote no PT e eleja a oligarquia
por Felipe Rigon Spack*


As eleições de 2010 marcam o momento em que, para eleger Dilma, a cúpula do Partido dos Trabalhadores terminou de sufocar o que restava da sua base militante. No Maranhão, a aliança do PT com Roseana Sarney foi imposta pela Direção Nacional através da cassação da decisão do Diretório Estadual, que era pelo apoio à candidatura de Flávio Dino (PC do B). Em Minas Gerais, a imposição foi menos gritante, mas no fim das contas Hélio Costa, direitista velho de guerra, abocanhou o apoio petista. No Paraná, o PT entregou seus vinte anos de militância “de porteira fechada”, como se diz: as alianças serão não apenas para as candidaturas majoritárias (ao Senado e ao Governo do Estado), mas também para as proporcionais (a deputado estadual). Isso significa que, ao votar na legenda 13, os eleitores petistas ajudarão a empoderar candidatos de direita, como Alexandre Curi e Stephanes Junior.
É que, no sistema brasileiro, as vagas de deputados e vereadores são escolhidas em duas etapas. Na primeira, a quantia de votos recebida pelo partido ou pela coligação em relação ao total de votantes define quantas vagas aquele grupo conseguiu conquistar do total de cadeiras da casa legislativa. Na segunda, essas vagas são distribuídas dentro do partido ou coligação, tendo preferência os candidatos mais votados individualmente. O PT, como partido que tem origens na esquerda, tem muitos votos na legenda, mas relativamente poucos nos candidatos individuais. É justamente o contrário dos partidos mais à direita, que costumam fazer campanhas personalistas e, assim, alcançam facilmente, no Paraná, algo próximo a cem mil votos para certos candidatos. Na primeira etapa, os abundantes votos da militância petista ajudam a coligação a conquistar vagas para a Câmara. Mas na segunda etapa, os candidatos do PT são preteridos em benefício dos monstros eleitorais da direita.
Nestas eleições, o chapão do PT envolverá gente como o latifundiário Osmar Dias e o industrial Rodrigo Rocha Loures, além do próprio Roberto Requião, antigo rival de Osmar em 2006. A aliança com o mais jovem dos irmãos Dias, aliás, revela o estranho duplipensar desta fase de agonia programática do PT. Em 2006, o discurso petista era o de apoiar Requião a qualquer custo, porque Osmar era inadmissível. Vitorioso Requião, o PT integrou um governo dito de esquerda, alternativo ao do latifundiário Osmar, sempre mencionado pelos petistas como ” irmão do espancador de professores” Álvaro Dias etc. Em 2010, o PT , com argumento de favorecer a continuidade de um governo federal que diz promover melhorias na educação e paz no campo, apóia com grande entusiasmo o latifundiário e irmão do espancador de professores.
Desnecessário dizer que essa guinada à direita não foi feita sem grande resistência da base popular com que o PT ainda conta. Alguns candidatos petistas à Assembleia Legislativa, que haviam sido confirmados pela conferência eleitoral estadual do partido, militantes há mais de vinte anos, chegaram a ser brutalmente afastados pela Executiva Estadual para dar lugar aos candidatos da coligação. Ao esmagamento da base se seguirá o fracasso eleitoral do PT, que não deverá ser muito diferente do que aconteceu nas eleições para vereadores em 2004 em Curitiba, quando o partido, coligado com direitistas, perdeu cerca de metade de sua bancada.
Tentando eleger Dilma a qualquer custo, a cúpula do PT abre as portas para que os candidatos da direita se refestelem com seu eleitorado, duramente construído por gerações de brasileiros de esquerda. Assim, sob o pretexto de conter o abstrato “avanço da direita” representado por uma possível vitória de José Serra, o PT proporciona na prática o avanço da direita mais oligárquica e reacionária, abortando os movimentos de resistência dentro de suas próprias fileiras e despreparando os movimentos sociais e seus próprios militantes para resistir contra futuras ofensivas do capital. Após José Alencar, Michel Temer, Sarney, Delfim Netto, Lily Marinho, Abílio Diniz, Collor, Renan Calheiros, Osmar Dias e Hélio Costa, faltam poucos nomes da burguesia brasileira a serem seduzidos e cortejados pela alta cúpula do Partido dos Trabalhadores, na espiral sinistra de decadência em que atirou a esquerda brasileira.

*Felipe Rigon Spack é advogado e militante do movimento popular em Curitiba.

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