terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tragédias no Rio: um caso bem brasileiro

sinditest
08/02/2011

Este início de ano choveu acima da média dos anteriores. O desmatamento tornou as áreas de encostas mais frágeis. O poder público se omitiu e continua se omitindo da tarefa de fiscalizar e, em contrapartida, muitas pessoas continuam construindo em locais inadequados. Tudo remete a mais uma fatalidade. As imagens e explicações de especialistas sobre a tragédia no Rio, uma tragédia anunciada, como não se cansam de repetir, apontam nesse sentido. Precisamos, porém, inserir o problema num contexto mais amplo.

A ocupação e o uso desordenado do solo não é exclusividade do caso carioca. Acontece o mesmo nas grandes cidades do país. Enchentes, deslizamentos, falta de local apropriado para a destinação do lixo doméstico, ocupação do solo em área de mananciais ou de preservação ambiental, situações que se tornaram corriqueiras nas grandes cidades. Resultado do modelo de urbanização escolhido.

O desenvolvimento das cidades depende essencialmente de uma reserva de mão-de-obra para instalação de grandes empresas. Este processo se iniciou em Curitiba, por exemplo, nos anos 90, quando a cidade começou a promover uma campanha de atração de trabalhadores de outros estados. A intenção era garantir que as empresas que aqui se instalaram tivessem não só trabalhadores suficientes para funcionarem, mas uma oferta de mão-de-obra maior para que pudessem pagar salários mais baixos. Em outras palavras, quem se arriscaria a lutar por um salário melhor quando há uma reserva de trabalhadores desempregados que está disposta a trabalhar pelo seu salário?


Por outro lado, a concentração de terra no meio rural expulsa os trabalhadores do campo para a cidade. O modelo do agronegócio, hoje dominante no país, exige relativamente menos trabalhadores do que a agricultura familiar, que produz cerca de 70% dos alimentos que consumimos. O agronegócio, que produz para o exterior, que emprega menos, que se baseia na grande concentração de terra, que contribui para o inchaço das grandes cidades, é o modelo que recebe enormes incentivos por parte do Estado.

Ao trabalhador que migra para as grandes cidades em busca de uma vida melhor não há alternativa senão a ocupação ilegal da terra com suas construções precárias, haja vista que as regiões com algum valor comercial já estão dominadas pelo mercado imobiliário, que, por meio de seus vereadores, deputados, senadores ou governantes, com quem nutrem relacionamentos graças ao aporte financeiro que dão às suas campanhas eleitorais, garantem investimentos públicos para a valorização de seus empreendimentos imobiliários.

As mega obras que acompanharão a Copa e as Olimpíadas não fogem desta lógica, insistindo em concentrar investimentos para a valorização imobiliária, em detrimento de uma política habitacional que garanta moradias dignas. Mas, como nossos governantes poderiam resistir à tentação de promover grandes obras que garantem mais visibilidade e votos do que se enfrentassem as grandes imobiliárias?

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